domingo, 31 de dezembro de 2017

A fila da Mega da Virada (revisitada)


Há alguns anos, as loterias no Brasil criaram o que se pode chamar de “grande sacada”, a Mega da Virada. Ano a ano, o prêmio da última mega-sena do ano vem batendo recordes e, agora em 2017, ela chega ao maior prêmio a ser pago na história das loterias no país (o recorde anterior é da mega da virada de 2014).

E haja filas para jogar!

Cartões individuais,cartões de bolão da empresa, do grupo de futebol, do condomínio etc. Ninguém quer chegar dia 2 de janeiro sendo o único na empresa, na pelada ou o último morador do seu prédio.

A fila da mega-sena da virada é uma fila diferente, democrática, não há praticamente nenhuma regra de formação (a não ser a questão geográfica, de proximidade até a Casa Lotérica). Ali, há pessoas de diversas faixas de renda, diferentes credos, torcedores de times rivais, além de pessoas de todos os níveis de escolaridade.

Nada impede, por exemplo, de estarem ali, na mesma fila, no mesmo sonho, o professor e o aluno, o chefe e o subalterno, o dono do carro de luxo e o menino que limpa o vidro no sinal.

Também no nível de conhecimento de probabilidades, nada se pode dizer sobre a composição das filas nas casas lotéricas. Uma vez, Millôr Fernandes, disse algo como “a loteria é um tipo de imposto cobrado só daqueles que não sabem matemática”. Um professor de finanças, uma vez, demonstrou que a chance de ser sorteado na mega-sena jogando apenas um cartão (ou mesmo algumas dezenas ou centenas de cartões) é similar à chance de o cartão premiado vir voando e bater na sua cara.

Mas ocorre o estranho fenômeno da negação das evidências!

Um cartão da mega-sena tem chance de vencer de pouco menos de 0,000002%, obviamente quase nula, mas não é nula! E é aí que “a trama se complica”!

Nascem daí inúmeras manias e teorias: jogar sempre o mesmo cartão (“um dia dá!”), jogando sempre um cartão diferente (“variando a cada aposta, aumentam as chances!”), fazendo estatísticas das dezenas mais jogadas, menos jogadas, médias (esquecendo que 1-2-3-4-5-6 tem a mesma chance de vencer que qualquer outra combinação).

Curioso é o caso de um amigo que sempre joga a mesma combinação (mas que algumas vezes se esquece de apostar) e se nega a fornecer seus números para que se verifique se eles já haviam saído em algum dos 1999 concursos. Ele tem medo de se frustrar ao saber que num dos esquecimentos seus números podem ter sido sorteados (ele nunca confere quando esquece).

Só para nota: as 1999 sequências sorteadas até hoje na mega-sena só representam 0,004% da quantidade total de sorteios possíveis. A mega ainda é uma criança!

Tem de tudo nas filas da mega da virada, quase nenhum padrão pode ser traçado sobre as pessoas que ali estão. Mas uma coisa fica clara, ali está a maior concentração de esperança por metro quadrado no país (coisa que anda rara de 2014 pra cá). Nada mais propício para um final de ano. E nisso as Loterias acertaram de novo.

Afinal, o custo do cartão é um dinheiro quase certamente perdido (eu disse quase), mas é um precinho barato a pagar pelas horas, dias ou mesmo semanas de esperança de que, no ano novo, pelo menos no bolso, as coisas sejam bem melhores.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Peões Metafóricos (*)


Era final de tarde, a luz do dia decantava-se pouco a pouco no horizonte; também para o sol, a jornada de trabalho chegava ao fim. Dirigi-me até um café, onde por muitos anos cultivo o hábito de observar os últimos momentos de claridade ouvindo conversas distantes ou perdido em pensamentos, acompanhado somente de uma pequena xícara de café expresso, sem açúcar.

Um coro de vozes exaltadas ao fundo chamou-me a atenção. Guiados pelo som, meus olhos correram até uma mesa de canto onde havia mais garotos que cadeiras. “São estudantes”, pensei entre um gole e outro.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um erro calculado?

Spassky, B. X Fischer, B. ( Reykjavik, 1972)
Posição após 29. b5 …
FEN: 5k2/pp4pp/3bpp2/1P6/8/P2KP3/5PPP/2B5 b - - 0 29

Para alguns, pode parecer estranho que esta posição tão simplificada, até levemente desinteressante, possa, ao mesmo tempo, ser tão famosa.

Em 1972, o mundo inteiro (e não somente os enxadristas) acompanhou avidamente a disputa pelo título mundial de xadrez (que, à época, era disputado a cada 3 anos). O motivo para tanto interesse foi que, desde a criação do ciclo do campeonato mundial pela FIDE (após a morte de Alekhine em 1946), aquela seria a primeira vez que os contendentes (campeão vigente e desafiante) não seriam ambos soviéticos. Mais que isso, em plena Guerra Fria, emergira como desafiante o norte-americano Bobby Fischer!

LancesQI

O blog foi mudado para: www.LancesQI.com.br