quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Memórias de um enxadrista

Há treze anos eu jogava minha primeira partida num torneio de xadrez. Tinha as peças brancas. Confiante, aventurei-me com "1. e4", e fui surpreendido pela, então inédita, defesa Siciliana, "1. ... c5". Foi minha primeira derrota em torneios.
Desde então minha devoção ao jogo aumentou, voltei com afinco às páginas do Xadrez Básico, comecei a ter aulas, disputei outros torneios. Foi um ano dedicado a melhorar minha técnica na intricada arte das 64 casas. Ao final deste ano eu terminava o Campeonato Estadual Absoluto (de todas as categorias) num honroso (para mim) oitavo lugar, melhor colocação dentre os jogadores de minha idade.
Aquele foi um tempo de grandes descobertas sobre o tabuleiro: um pouco de aberturas, um pouco de meio-jogo, um pouco de finais de partida. Muitas vezes, nas metafóricas combinações do nobre jogo, incipientes lições de vida eram reveladas.
Passei toda a adolescência e início da vida adulta pensando quase que diariamente em alguma situação enxadrística. O xadrez fez parte de minha vida em ocasiões importantes: entrada no segundo grau e na universidade, vivência no exterior (onde também disputei torneios), primeira namorada, primeiro emprego, primeiro carro.
Mas, ironicamente, o próprio desenrolar da minha vida foi-me afastando do enxadrismo, as metáforas com o jogo foram rareando, até que, com tristeza, sinto-me hoje quase um estranho ao universo que ronda o xadrez. Se, por acaso, visitar uma sala de torneio qualquer em minha própria cidade, é bem provável que eu não conheça boa parte dos jogadores.
Vêm à mente, muitas vezes, imagens variadas: dos bons amigos que fiz nos torneios, das muitas derrotas, das vitórias importantes que me impulsionaram a continuar. Refaço mentalmente as variantes que tomei e que, pouco a pouco, levaram minha vida para cada vez mais longe dos tabuleiros.
Felizmente, quando parece que perdi os laços com o jogo dos reis, uma bela partida num livro ou na internet reaviva a velha chama, e sou novamente como o garoto que há treze anos descobria, com o rei inclinado, a eficácia da temida defesa Siciliana.

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